Feromônios: Comunicação pelo olfato

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Você sabia que formigas se comunicam? Quando se fala em “comunicação”, o primeiro dos cinco sentidos que pensamos é a audição, certo? Mas existem inúmeras maneiras de nos comunicarmos com o ambiente e outros seres vivos que vão muito além da fala. A primeira coisa que precisamos compreender é que a comunicação nada mais é do que uma série de eventos no ambiente que evocam a nossa percepção ‒ seja ela fisiológica ou comportamental ‒, e que, para a comunicação existir, basta que se tenha um emissor e um receptor de sinais.

Esses sinais emitidos podem ser sonoros, visuais, mecânicos e químicos, como acontece, por exemplo, com o olfato: quando você reconhece o cheiro daquela pessoa que gosta, há ali um emissor e um receptor de sinais, e, portanto, uma forma de comunicação. Porém, nem sempre temos acesso consciente a informações enviadas ou recebidas e alguns tipos de sentidos não podem ser reconhecidos. Esse é o caso dos feromônios, substâncias químicas inodoras e invisíveis que modulam uma comunicação entre indivíduos da mesma espécie.

Os feromônios são substâncias presentes em todo o reino animal ‒ até onde se sabe ‒, que evocam diferentes tipos de reações e comportamentos, e para alguns bichos são fundamentais para a sobrevivência e interação social dentro da espécie. Um bom exemplo é o das formigas e a trilha que seguem enquanto vão buscar comida: uma atrás da outra, alinhadinhas. Isso acontece devido a um tipo específico de feromônio que produzem chamado de “feromônio de recrutamento”, que se trata de uma substância deixada no chão para que as formigas possam sentir e seguir corretamente a trilha deixada diretamente para um alimento.

Figura 1. Trilha seguida por formigas. Retirado de: jornaldenegocios.pt.

Existem vários tipos de feromônios, mas há evidência científica de 4 tipos principais. São eles:

  • os Desencadeadores ou Liberadores: que produzem efeitos relativamente imediatos no comportamento do receptor, como por exemplo os feromônios de alerta que avisam o receptor de um perigo iminente ou os feromônios sexuais que chamam a atenção de um parceiro em potencial;
  • os Preparadores: que desencadeiam uma série de eventos maiores que levam a mudanças na fisiologia ou comportamento, como por exemplo os feromônios associados à ovulação ou produção de espermatozoides;
  • os Informacionais: que indicam alguma coisa, como o exemplo do feromônio de recrutamento das formigas para um alimento, ou feromônios que indicam o território de um animal; e
  • os Moduladores: que afetam a percepção e sensação do receptor, e consequentemente, seu comportamento.

Os feromônios podem ser liberados por órgãos especializados, mas em humanos pode-se encontrar indícios de feromônios também em secreções corporais como suor e urina. São substâncias muito voláteis e, segundo cientistas, os animais desenvolveram ao longo da evolução uma estrutura especializada para receber e processar essa informação: o órgão vomeronasal (ou VNO). Nos humanos, foram encontrados apenas vestígios da existência desse órgão. Portanto, os cientistas acreditam que, caso haja interpretação de feromônios dentro da nossa espécie, ela se dá por outros meios.

Além das formigas, outros invertebrados utilizam feromônios para transmitir sinais de agregação, informação territorial ou sexual e alarmar membros de sua espécie. Os estudos sobre o efeito de feromônios em insetos são importantes porque o funcionamento desses animais é mais simples e, assim, podemos entender melhor como é o efeito direto dos feromônios, além de sua utilidade para produtos no mercado, como armadilhas para o controle de pragas, por exemplo.

Já os vertebrados possuem comportamentos mais complexos, sua resposta para feromônios é menos direta e ainda existe o debate se vertebrados utilizam feromônios em sua totalidade. Em mamíferos, observa-se que os feromônios sexuais podem ajudar a fortalecer laços entre pais e filhotes, modificar processos de puberdade, delimitar territórios e, em alguns casos, são utilizados como pistas de competição de esperma onde, durante o acasalamento, feromônios masculinos aumentam a alocação de espermas do macho mesmo sem a presença de outro macho para a competição.

Figura 2. Ursos e relação entre pais e filhote. Retirado de: dailymail.co.uk.

Há ainda a teoria de base evolucionista de que as fêmeas escondem a sua ovulação dos machos, pois assim elas conseguem estabelecer relações sexuais com outros parceiros para conseguir genes superiores em um tipo de “competição de espermas”. Mas a evolução não ajudaria também os machos a não ficarem em desvantagem? Sim, e uma possível contra-estratégia deles seria o sistema de sinalização androsterona-androstenol. Aparentemente, graças a esse sistema, as fêmeas avaliam o odor masculino como mais agradável quando estão no período de ovulação, o que auxiliaria os machos a detectarem a tal ovulação escondida. O que se conclui disso é que os feromônios parecem trabalhar como armas estratégicas que equilibram os lados nessa aparente batalha dos sexos.

Figura 3. Feromônios afetam o comportamento sexual de seres humanos? Retirado de: dilei.it.

As pesquisas envolvendo feromônios, entretanto, são sempre complicadas, principalmente as que buscam entender a influência dos feromônios no comportamento sociossexual dos seres humanos. Isso porque enquanto muitos estudos trazem resultados positivos, outros trazem evidências contrárias, o que torna difícil dizer se há, de fato, esse efeito tão visto e comprovado em outras espécies animais. Isso pode se dar, primeiramente, por problemas metodológicos, como falta de consenso quanto a qual método usar em estudos laboratoriais e a dificuldade de controle de fatores externos nas pesquisas feitas na vida real.

Uma segunda razão é a de que o contexto certo parece ser fator importante na influência de feromônios. Talvez os estes apenas não funcionem dentro das condições experimentais das pesquisas. Talvez os efeitos de modulação do comportamento humano sejam resultados da mistura nas proporções certas dos químicos que compõem os feromônios. Isso pode ser visto no seguinte exemplo: a mariposa e o elefante asiático compartilham um mesmo feromônio. Mas, então, como a mariposa não responde ao feromônio liberado pelo elefante? Justamente, por causa das diferenças interespécies, como as quantidades e os contextos nos quais os feromônios são produzidos.

Então, apesar dos achados tão interessantes que se têm sobre o efeito dessas substâncias em outras espécies, nada contundente pode ser confirmado na espécie humana. A certeza que se tem é a de que os feromônios existem, mas seus efeitos no comportamento humano não são claros nas pesquisas por causa da característica contexto-dependente dos feromônios. Trata-se de uma área de estudo com muitas perguntas e poucas respostas, especialmente no que diz respeito aos seres humanos, e que aguarda uma revolução para avançar com os estudos. Enquanto isso, seguimos à procura do perfume perfeito para encantar o “crush” sem a ajuda dos feromônios.

Referências

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Sobre as autoras

Ana de Andrade Carvalho. Graduanda em Psicologia (UnB). Interessada nas áreas de Psicologia do Trabalho e Psicologia Escolar, além de assuntos como sustentabilidade e veganismo com explicações da Psicologia Social. Dançarina de danças urbanas e amante do universo Tolkien nas horas vagas.

Beatriz Moreno Campos Carvalho. Graduanda de Psicologia (UnB). Interessa-se bastante pela área da Psicologia Social e realiza pesquisa em mudanças sociais, racismo e maioridade penal. Entretanto, não tem nenhuma certeza acerca de seu futuro e tenta viver dia após dia escutando muita música, cozinhando coisas gostosas e cuidando dos animais.

Renata Ramos de Souza. Graduanda em Psicologia (UnB), apaixonada por Neurociências e Psicobiologia. Possui extensas habilidades em edição de imagem e produção de conteúdo; e um grande amor por filmes e séries de suspense, horror e terror e a Psicologia envolvida neles.

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Carvalho, A. A., Carvalho, B. M. C., & de Souza, R. R. (2021, 28 de maio). Feromônios: Comunicação pelo olfato. Eu Percebo. https://eupercebo.unb.br/2021/05/28/feromonios-comunicacao-pelo-olfato/

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